Eu, Homens, Pensamentos, Relações

Eu sinto ciúmes

Certas coisas a gente só consegue sentir, e observar que está sentindo depois que toma conhecimento racional a respeito delas. Antes de entender racionalmente que eu sentia ciúmes, eu era incapaz de ligar meu mal estar, minha raiva à atitude de uma pessoa, ou mesmo a uma pessoa.

Ficava irritada, de mau humor, chata e cobrava muito mais que o normal. Mas era impossível de resolver o problema, pois eu não sabia ligar a causa à consequência.

Hoje, já ciente que eu sinto ciúmes sim! E muito. Posso escolher como reagir a ele. Posso observá-lo dentro de mim, dando ordens de comando e remexendo tudo por dentro. Posso sentí-lo inteiro, manifestando em meu corpo, e em meus pensamentos.

O interessante é observar. Neste momento já consigo me olhar de fora. Como o observador distante, mas ao mesmo tempo presente. E é impossivel não rir de si mesmo, ao se observar irritado, com raiva, dando chiliques… eu pelo menos acho a maior graça de mim mesma.

Ao ler, ou escutar algo eu vou até a cena. Me vejo lá, observo tudo, estou em um canto, de braços cruzados, ou sentada, não muito próxima, mas presente o suficiente. O semblante passa tranquilidade, e quase um sorriso, mas na verdade destilo veneno através dos olhos. Vejo contato, risos, abraços, envolvimento, odeio o que vejo. Eles se tocam, suam, riem juntos. Se encostam, trocam informações e a conversa rola solta. E eu vejo, de fora, eu não participo. E mesmo que depois seja convidada, já não me interesso naquela diversão. A noite já perdeu a graça, já fui excluída, e  com um sorriso vivo, agradeço e justifico, “estou cansada”. (Cansa controlar meu corpo e não voar no pescoço da dita-cuja)

Meu intelecto, meu racional, pensa: “Nossa, que legal isso, fico feliz por ele. ” “Não, eu não sinto ciúmes, quero mais que ele esteja feliz.” “Que bom que ele está feliz, e que está vivendo coisas legais com outras mulheres” “Eu fico feliz com a alegria de meus amigos”.

HAHAHAHAHAHAHAH

Quanta mentira!!! Muita mentira mesmo. Da pior espécie possível, a que engana a si mesmo.

O que sinto na verdade é:  “O infeliz ficou com outra, não acredito que ele se diverte sem mim” “Putz, quem será esta baranga? Deve ser uma vaca.” “Ah, ele quer só comer ela mesmo, trouxa.” “Que ódio. Eu que queria estar ali.” “Eu detesto saber que alguém se alegra sem mim.”

Sério mesmo. É isso que eu sinto. Mas graças-ao-bom-deus-dos-egos-inflados eu consigo não me mover guiada por estes pensamentos. Ainda não consigo deixar de tê-los. Mas escolho não manifestar todo este orgulho, egoísmo e ódio contra a pessoa, tanto a que eu gosto, quanto a que passei a odiar instantaneamente.

Outra coisa a ser observada, como bem fala um amigo meu em seu blog, é a reação do corpo. Sim! Ele reage sozinho. Mesmo que eu não queira escutar a voz maléfica que susurra no meu ouvido, tentando me guiar, meu corpo escuta e me diz o quanto aquela situação me incomoda.

No caso do ciúme, posso sentir meu corpo se contraindo, sim, ele se fecha, se dobra, pra dentro, remoendo seu próprio veneno. O coração dispara, mas pesado. A respiração fica curta, quase falha, o rosto se fecha, o semblante fica carregado. Me incomoda engolir, e minha boca seca, os lábios se contraem e ficam enrugados. Assim, como o coração. Preso, oprimido, em meio a tanta dor, e medo.

Neste momento, pra mim, assumir o sentimento negativo é o melhor. E eu quase grito. “SIM EU TENHO CIÚMES DE VOCÊ!” “EU QUERO VOCÊ SÓ PRA MIM”.

E depois de assumir, este orgulho e egoísmo, posso me sentir novamente onde estou. Aqui e agora, eu não estou mais presente na cena. Não estou encolhida mais. Estou em pé, inteira, aqui.

Ao me sentir presente, no momento, posso rir, me envolver, me sentir. Ao abrir meu peito novamente, pode ser que force por dentro, e abra um pequeno machucado. Mas ele é meu, é vivo, e eu posso senti-lo. Me livro do peso e mesmo com pequena dor, estou presente, e livre.

Sinto que a pessoa não é minha. Ela não precisa estar comigo, e sim ele é lindo mesmo assim. Ao livrá-lo de  mim, eu me livro dele também. E me livro de mim mesma. Ele não precisa estar comigo. E eu não preciso estar com ele.

Eu pisco os olhos, sorrio e sinto quantas coisas existem lá fora. O quanto vale a pena gostar, e sentir isso tudo. E como é bom escolher gostar de alguém.